Estou tendo um grave problema de intolerância a muitos dos meus “companheiros” espíritas, pois tem me faltado paciência para ler ou mesmo ouvir os “santos” aqui na Terra. Kardec foi contra o proselitismo, afirmando, inclusive que convicção não se impõe, porém continuamos vendo a mesma prática teórica proselitista de sempre. São os donos da verdade.
Quando escrevem, usam o tom da doutrinação, tentando convencer o leitor de que aquilo que dizem é uma verdade que não pode ser discutida, nem questionada, mas sempre seguida, sob pena de se ir para o Umbral ou estar sob forte interferência espiritual negativa. Não suscitam o embate de ideias, tampouco acham que podem ser negados em seus princípios e ou colocações. Guardam uma linguagem cheia de metáforas de medo, sem renovação que os tempos atuais exigem. Quando falam, bem acentua o jornalista Wilson Garcia, “...usam de inflexões estudadas, têm a voz melíflua, dão a idéia de santificação, muitas vezes copiam oradores famosos, fingem humildade que não possuem. Tudo isso para impressionar.”.
Os novos tempos estão aí, não os das tais crianças índigos, blus, reds ou sei lá mais o quê, tampouco de transições espetaculares de mundo de provas e expiações para o de regeneração. Não! Não! Tolices puras, pois o urgente e necessário é o mundo do dia-a-dia que bate em nossas portas, solicitando ajuste de emprego na divulgação espírita para algo mais abrangente e real: espiritismo cidadão.
Não poderemos mais, penso, ficar no falar emproado das questões subjetivas da vida etérea. Façamos o necessário agora que o espiritual estará inserido, sem necessidade de borogodós que não mais impressionam como já impressionaram, ainda que muitos se sentem ainda empolgados com tais discursos, que não levam a coisa alguma.
Precisamos de uma concepção de educação espírita que nos leve a uma leitura do mundo e da palavra, em que cada pessoa possa dizer sua palavra. Palavra que nasce da compreensão e uso do conhecimento produzido na religião, nas ciências, nas artes e da compreensão cotidiana da vida.
O Espiritismo precisa trabalhar uma divulgação com a prática social, mas também com conceitos libertadores, transformadores do mundo, não para a santificação que pessoa alguma busca, até mesmo as que pregam tanto o amor, mas na intimidade de suas vidas são lobos travestidos de cordeiros.
O Espiritismo precisa cumprir um papel político transformador, não no sentido de púlpito partidário, mas de despertar consciência aos compromissos com a educação cidadã, que vise à demonstração de que evoluir é também cuidar do meio-ambiente, ter educação no trânsito, respeitar vagas de deficientes e idosos nos shoppings e por aí vai. Fazer com que o espírita de amanhã seja um comprometido com o verdadeiro ideal comum, em todos os níveis e processos de vivência na sociedade.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz