Pessoa alguma vai colocar em dúvida, sob o crivo do bom senso, que a vida precisa ser preservada, protegida nas suas mais variadas manifestações, inclusive a humana.
Estamos, no entanto, vendo que a vida humana está cada vez menos valorizada, na bolsa da proteção e do respeito, por uma crescente maioria de congêneres. Não falo do aumento da violência, tampouco da banalização do crime. Não. Reporto-me à pouca importância que se registra diante de uma morte humana, em contraponto com a de muitos animais, que, realmente, merecem ser protegidos. Mas precisamos urgente de ONGs que defendam o bicho gente. Sei que há inúmeras organizações nesse mister, porém eu não entendo episódios como o de Vítor Suarez Cunha que foi espancado na madrugada do dia 2 último, ao tentar defender um mendigo que estava sendo agredido. Os médicos usaram 63 parafusos de titânio no rosto quase esfacelado do jovem, dada a brutalidade usada por cinco rapazes que o massacraram pela sua coragem cidadã.
Sites e jornais noticiaram, mas não se viu a manifestação popular de aplauso, de reconhecimento desse herói da vida humana. Onde visita a ele de órgãos de direitos humanos? Onde fotos com autoridades? Onde redes sociais o proclamando com denodo? Onde programas de televisão? Talvez nada ou pouco aconteceu por um único motivo: o mendigo era gente e à margem do mundo burguês.
A solidariedade repercussiva que aconteceu com evidência foi a do soldado Yuri Ribeiro, da Força Aérea Brasileira (FAB), que usou da internet para prestar solidariedade a amigos responsáveis pelo espancamento do estudante Vítor. Disse ainda pela rede social que, se estivesse no momento do espancamento, o estudante não teria ficado vivo. A FAB foi pronta e justa, expulsou o soldado em processo administrativo sumário. Não tinha o perfil para os quadros das Forças Armadas.
Ao rever Nietzsche em suas ilações, vê-se que ele sempre defendeu a afirmação de que o homem é definido como um animal que está em constante evolução. Ouso-me: em aprimoramento de seus métodos de valoração equivocada do que não é ser.