Quando leio ou ouço algum companheiro espírita fazendo pregação de unidade e constato a sua prática; quando vejo uma teoria recheada de doce e mel, mas uma prática azeda, acre, lembro-me de Josué Arapiraca, de saudosa memória, grande médium, fundador e dirigente do Centro Espírita Mensageiro da Luz, na Baixa do Bonfim, de onde fui oriundo, nos meus primórdios espíritas, quando tinha 15 anos.
Lembro-me dele porque gravou em minha mente o seu compromisso com o verdadeiro, o sincero, de forma simples, arrojada, comprometida com os seus conceitos, em especial os no campo dos teóricos do amor, mas senhores da guerra das discriminações e preconceitos: “Teoria sem prática, é igual a cheque sem fundo”; “Quem prega o que não faz é o mesmo que satanás pregando quaresma”. Verdades insofismáveis.
Josué Arapiraca foi combatido, discriminado, até mesmo desrespeitado pelos seus pares de fé; natural, dentro deste mundo espírita de valores ditados por alguns, pela conveniência e circunstâncias. Mas, o que sai de um coração em sintonia com suas verdades reverbera através das mentes e almas em compromisso com a vigilância permanente, em não se transformar em um burocrata da fé, mas, sim, em um agente ao convite da sinceridade. Arapiraca era assim.
Em Lucas, 12, está escrito: “Ajuntando-se, entretanto, muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, Jesus começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”. É sabido que a palavra hipócrita, no grego, significa ator, pessoa que representa um papel, sem guardar relação com o que vai em sua alma. É apenas um intérprete do que julga o melhor para dissimular. Vemos, então, que muitos religiosos interpretando os seus papeis, falam os seus textos para serem ungidos como missionários, enviados, conhecem o que vai na sua alma, mas preferem o palco das retóricas, sem vínculo de sinceridade com o seu conteúdo. Quem os conhece sabe que o que falam não é o que realmente fazem, mas Jesus, em Mateus – 23: 13, já os alertava: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.” Claro, visto que com as dissimulações, principalmente as fugas da humanidade que carreamos, gerando improváveis roteiros, onde a tônica são palavras de ordem superior, mas que fogem completamente às suas realizações pessoais. Fingem que trabalham em uma direção, mas, muitas vezes, vão em direção totalmente oposta. Jesus prossegue, no versículo 14: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.”. Mais uma vez, é a contrição, o religiosismo colocados para os outros, mas, para si, nem sempre; a esses, o rigor da própria consciência na cobrança, que, se não ocorrer agora, um dia, seguramente, ocorrerá.