É sabido que o profissionalismo político é calçado, em grande parte, em falácias, manipulações, dissimula- ções e mentiras – não sou, no entanto, generalista –, mas é o que vislumbramos em nosso país, a grosso modo. E a cada dia que passa os tais “nossos representantes” têm perdido a noção de realidade, firmando uma certeza pantanosa de que podem enganar abertamente o povo, porque este nada perceberá.
Infelizmente, é fato, muitos cidadãos tomam como verdade absoluta o que ouvem, sem buscar o contraponto na formação de seus conceitos e certezas. Minha saudosa mãe diria que tudo demais é sobra, e estes senhores têm sobrado no capítulo de achar que acreditamos em suas mirabolantes construções justificadoras de seus desmandos.
Vemos políticos afirmando pérolas do tipo, como disse o próprio presidente Temer, quando questionado sobre receber o empresário Joesley, na calada da noite, secretamente: “Fui ingênuo”. Ora, bolas qual ingênuo nada, foi cuidadoso, soturno, mas não contava com o inusitado da secreta gravação. É bíblico: só cai em armadilha de lobo quem é lobo.
Alguns dos diversos segmentos da mí- dia têm falado que a forma com que os irmãos Batista agiram, inclusive com supostas orientações de membros do Ministério Público, foi conluio contra o presidente Temer. Penso, no entanto, ser bastante infeliz que se questione o modus operandi, mas não o que se conseguiu. Temer em seus pronunciamentos confessa o encontro, não nega o que foi dito, mas não tomou providência alguma quando comunicado de crimes em curso pelo seu interlocutor. Argumento, inclusive, da OAB para pedir o seu impeachment. Perdendo-se em sua própria defesa, Temer disse que não sabia que o empresário era investigado.
De outro lado, falando sobre o antigo colaborador, Rocha Loures, afirma que a ligação era institucional – posição bem ao gosto de político quando não quer ser vinculado ao outro –, mas a pérola veio quando afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo: “Ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole”. Nossos conceitos de boa índole são diametralmente diferentes.
É certo que tudo que realizarmos impactará na nossa vida, dos nossos familiares e de todos que estão ao nosso derredor. Imaginemos o de um presidente da República. Dessa forma, torna-se indispensável que o chefe de um poder da República tenha muita certeza do que faz, do que trata, pois as suas escolhas serão os seus valores em ação, podendo gerar consequências irreparáveis. Não me reporto aqui única e exclusivamente às suas questões pessoais, mas ao todo de um país, de uma sociedade cheia de sequelas por tantos atos de corrupção. Disse o filósofo Immanuel Kant: “Tudo que não puder contar como fez, não faça”.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz
Coluna Opinião/Jornal A Tarde