Não podemos nos acostumar com o errado, para que não haja a contaminação dos reais valores a serem transmitidos a gerações futuras, em uma sociedade que dá show de corrupção, desmando e desfaçatez. E aqui não falo apenas dos protagonistas das cenas políticas, de forma alguma. Falo também dos representantes religiosos, dos agentes públicos, em seu sentido geral e muitos anônimos, que fazem os seus pequenos cambalachos na impossibilidade, oportunidade de algo maior.
Precisamos de muita atenção, pois é um tal de político que se toma de vestal, brame com o dedo em riste contra a corrupção, para logo mais ter o seu nome incluído também em ações de corrupção; é ministro pregando moralidade, por análise de contas públicas, para ter também o seu nome lançado em possibilidade de ganho de propina. Você, leitor, como eu nos perdemos com o tal fio da meada, de quem é quem na gatunagem, pois surgem os partidarismos, até justificativas sobre esses atos ignóbeis.
Recentemente, ao ver pelos jornais o indício de corrupção envolvendo recepção de propina de R$ 500 mil pelo senador Agripino Maia, muitos não reagiram com a perplexidade do fato em si, mas do montante, inclusive, exclamando: “Só!?” É com isso que precisamos nos preocupar: o esfacelamento dos princípios, pela formação de uma escala de valores, não sobre o certo e o errado, mas pelo pequeno e o grande, em referência de montante. Dar R$ 50 de propina, ou recebê-la é bobagem, muitos já pensam, e arrematam: não vai prejudicar pessoa alguma, mas o que esses políticos roubam... é da educação, da saúde. Não existe, em questão de dignidade, de honestidade, o meio termo, mas, sim, o ser ou não ser. Eles usurpam do erário valores para uma vida melhor dos contribuintes, mas muitos também usurpam a vaga de deficiente no estacionamento para aquele que chegar necessitando dela. De fato, a consequência de uma é diferente da outra, mas a essência do mote é a mesma: levar vantagem, apropriação indébita.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSal e fundador da Cidade da Luz