Profundamente lamentável o voto que a ministra presidente do Supremo Tribunal Federal deu em desempate na discussão do ensino religioso confessional nas escolas públicas. Ou seja, o professor poderá pregar, quer dizer, ensinar a sua própria religião. Ora, ora quem poderá me dizer qual será a religião mais pregada, difundida nessas escolas? As religiões de matriz africana, honestamente, serão ensinadas? Estamos caminhando para uma situação de extremismo religioso, onde se prega na teoria a laicidade do país, mas apenas como retórica.
Mas a realidade é que o Brasil está se tornando intolerante por vários caminhos, inclusive religioso. Não faz muito, uma mãe de santo foi obrigada a destruir seu próprio terreiro em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, por bandidos que se diziam evangélicos. Eles filmaram a destruição e postaram o vídeo nas redes sociais. Em uma das imagens, um deles ordena: “Taca fogo em tudo, quebra tudo, que o sangue de Jesus tem poder”. Depois da destruição foram embora. “Alguns vizinhos ainda aplaudiram”, disse a mãe de santo, chocada.
Já por aqui o vereador Isnard Araújo (PHS) protocolou, na Câmara Municipal de Salvador, um projeto de lei que prevê punições para atos de “cristofobia”. Deixou em aberto o que de fato seriam estes atos, mas diz que “estabelecimentos comerciais, industriais, culturais, de ensino e de entretenimento, bem como as repartições públicas municipais que discriminarem pessoas em virtude da fé cristã” [sic BNews] sofrerão punições que incluem advertência, multa e até suspensão das atividades. Na justificativa, o vereador apresenta como base o artigo 5º da Constituição Federal, que versa sobre liberdade de consciência e de crença. O que seria discriminação para ele? Se eu rebatesse um defensor ardoroso de que o Evangelho não é a palavra de Deus, afirmando que ele foi manipulado em suas traduções por interesses políticos e religiosos de sempre, seria eu um cristofóbico? Penso que sim. Ou ainda: o que seriam dos judeus, que não acreditam que Jesus seja o messias, ou mesmo um profeta. Seriam esses atos considerados discriminatórios nas contraditas a quem falasse o contrário?
Muitos falam que o Brasil está caminhando para um regime de exceção política, mas, sinceramente, penso que está caminhando em marcha à ré para perdas de conquistas individuais e coletivas por todos os lados. Os extremistas estão se posicionando e assolapando o que é do seu interesse em todas as atividades nacionais. E aqui não falo de ideologia deste ou daquele partido, falo de extremismo que está existindo em tudo.
Estamos vendo uma metamorfose bizarra dos valores de coesão da sociedade, para estruturas sedimentadas no extremismo e no caos.