FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

Fronteira perigosa - 19/02/13

Ainda sob os reflexos e discussões de possíveis novas dinâmicas para o Carnaval de 2014, inclusive com a criação do Afródromo, leio e ouço considerações que me deixam preocupado com a exacerbação de posições acerca da rivalidade, ou, talvez melhor, competição entre os segmentos de blocos afros e de axé. É fato, ao analista atento, que sempre se tentou criar esses dois lados.

Reza a lenda que lá atrás, pelas décadas de 70 e 80, para se integrar determinados blocos, havia de se encaminhar uma foto para aprovação, uma espécie de seleção de “gente bonita” que se tinha em grande quantidade no bloco A e/ou B. Propaganda que se fazia e que vemos até hoje nas promoções de muitos blocos e camarotes. Nessa mesma época, surgem os blocos afros de expressão, como Ylê Ayê e o Olodum, em uma espécie de contraponto e valorização cultural de determinados segmentos.

“Cada pessoa pensa como pode”, vaticina Mario Quintana e é aí que reside uma fronteira perigosa nessas discussões de inclusão-exclusão, ricos-pobres, brancos-negros, favela-asfalto, pois os históricos ressentimentos podem surgir camuflados em argumentos sociais, culturais, raciais. Não poderemos, entendo, partir para avaliações de interesse que devem ser gerais e horizontais com eufemismos, afirmando que as questões não são desta ou daquela ordem ou, ainda pior,  agir como se não houvesse desigualdades, privilégios, benefícios de uns em detrimento de outros . É preciso considerar, questionar todas as vertentes: há, de fato, em nossas manifestações populares, preconceito racial entre nós - tal como Blumer o definia -, existe preconceito de cor - tal como definido por Frazier? Ou teríamos apenas preconceito de classe, como queria Pierson, em seu Brancos e Pretos na Bahia?

Ação governamental alguma deve ser calçada na manutenção de monopólio sobre certas vantagens e privilégios de pessoas ou grupos. Uma cidadania que se respeita não está alicerçada em peso popular, econômico ou o que seja, mas no respeito à horizontalidade de todos dentro da sociedade, com suas idiossincrasias e com os mesmos direitos.

José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz

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