Cresci ouvindo dizer que o povo brasileiro era o povo mais generoso do mundo, mas também ouvia que os patrícios são capazes de dar cinco reais para o adiante não ganhar dez, ou coisa semelhante. Há pouco, no entanto, a desilusão se estabeleceu realmente em mim. Todavia, fato é que só se desilude quem esteve iludido e, realmente, estive quanto à índole do nosso povo.
No final do ano passado, em questionários realizados em 153 países pelo instituto de pesquisas Gallup e pela ONG internacional Charities Aid Foundation, que criou o World Giving Index (Índice da Generosidade Mundial, em tradução livre), nós, os brasileiros, ficamos lá embaixo, em 76º lugar em um novo ranking internacional de generosidade, que avaliou o grau de envolvimento da população em ações de caridade. Os entrevistados responderam a perguntas sobre doações para entidades beneficentes, tempo gasto em trabalho voluntário e ajuda a estranhos.
O Brasil ficou, e muito, atrás de países tidos como frios e imperialistas, como Suíça e Estados Unidos, que empataram no 5º lugar. Na América Latina, o Brasil aparece atrás de outros 15 países no ranking da generosidade, empatado com Argentina e Nicarágua. Em julho deste ano, a GfK Custom Research Brasil, que é a quarta maior empresa de pesquisa de mercado do mundo, também chegou à mesma conclusão, com índices em percentuais. A média de generosidade brasileira é menor que a européia.
Infelizmente, quando começamos a avaliar o nosso entorno, aí, sim, de fato, concluímos que o provo brasileiro está se tornando cada vez mais individualista e egoísta. Fato perfeitamente constatado em um simples andar pelas nossas cidades, onde as pessoas fazem das vias públicas uma extensão de suas casas, permitindo-se tudo, e que se danem os outros. Ainda bem que o índice pesquisado foi o de generosidade, pois se fosse o de educação, ficaríamos, sem dúvida alguma, na rabeira da classificação.
Pois é, os que não somos assim não nos perturbemos, e os que são repensem seus conceitos a partir dos valores do que de fato seja cidadania.