Estarei, na reitoria da Ufba, no próximo sábado, dia 21, às 09h, ao lado de companheiros da igreja católica, do candomblé e do protestantismo, celebrando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, Lei 11.635/2007. A promulgação dessa lei foi um passo importante na chamada à reflexão, à necessidade de aceitarmos o diverso, no campo humano, que traz, pela sua própria natureza, a excelência da individualidade.
No entanto, vemos que ainda estamos muito, mas muito longe de fato de compreender a diversidade das crenças e aceitar, no mando sobre o nosso egocentrismo desmedido que, em se tratando de fé e sua vivência, cada ser humano traz as suas necessidades, compreensão daquilo que lhe completa, que gera o sentido real de religião, nesta religação com o sagrado de acordo com a visão de vida e anseios de cada alma.
Não é difícil tal constatação, o da intolerância contra os outros, quando percebemos que não conseguimos viver com as diferenças dentro da nossa própria religião, gerando sempre um clima inquisitorial quando alguém foge aos padrões que julgamos adequados, consoante as nossas posições, conceitos e forma de viver o que assumimos como religião. Ainda pesa a arrogância de nos acharmos os donos da verdade, do bom senso e do entendimento sobre tudo.
Infelizmente, ainda, o processo de aceitação do plural precisa passar por ações pontuais e destemidas de grupos, segmentos ou mesmo pessoas que não se intimidam diante de pressões ou velhas e comidas tradições, mas que se respaldam no chamamento constante à reflexão, porque não dizer da própria razão, em um despertamento da omissão, que geralmente caracteriza a vivência religiosa humana. Paira, lamentavelmente, uma preguiça espiritual sobre muitas pessoas, que não se permitem fugir a padrões internalizados, porque isto significaria sair do “conforto” a que se colocou por um mero processo repetitivo do que acompanhou na sua formação cognitiva.
Tratando-se, por oportuno, de cristianismo se faz necessário pontuar que o próprio Cristo não fundou religião alguma, Ele era judeu e morreu como tal. Os seus discípulos que, através de inúmeras dissensões internas, inclusive de lideranças, estabelecem as bases para nomear um grupo que acreditava em princípios e conceitos até então desconhecidos no Ocidente. Uma análise historiográfica sem preconceitos encontrará as mesmas vertentes vistas no cristianismo e muitas outras religiões, inclusive mais antigas que a do próprio Cristo.
Não aceitemos o que diverge, mas congreguemos no que converge. Penso que é isto que precisamos realçar na busca deste respeito pelo outro, lembrando que imposição não gera conversão, mas, sim, e muita, sublevação. Não guardemos a arrogância, em nada nesta vida, de acharmos que as nossas escolhas foram as melhores, são para nós, não, necessariamente, para os outros. Penso que é assim que se vive o melhor de todas as religiões: respeito amorável à forma de contemplar, vivenciar do divino de cada irmão.