Existem algumas práticas nocivas ao processo de se sociabilizar a doutrina espírita, em um patamar, onde a construção de um homem melhor não nasça de uma atitude contemplativa. Torna-se indispensável o posicionamento cidadão do espírita, reivindicando, contestando, agindo em benefício de um mundo melhor, mais justo e equânime. Não se pode, em forma de uma atitude pseudo-superior, estar à parte do mundo, de suas misérias e dificuldades, só pensando em “Nosso Lar” ou nas “Violetas na janela”.
O cristão espírita é destemido e confiante, pois obra para melhorar a sociedade, em seu conjunto de ação por um mundo melhor.
Estar à margem das discussões sociais do mundo em que vive é pura arrogância de quem não se sente inserido em um contexto de ação e transformação.
A questão n º 573 de O Livro dos Espíritos nos posiciona com clareza meridiana: "Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? - Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais".
Ora, como melhorar as instituições sem estar nelas, dando o exemplo de comprometimento com o bem coletivo?
Assim, teremos sempre que repudiar toda e qualquer ação que atente contra a sociedade em que nos encontramos. Não iremos fazer das nossas tribunas espíritas palcos de desagravos ou de avaliação desta ou daquela conduta, mas não poderemos deixar de nos indignar com a miséria do salário mínimo, com as filas do INSS, com a incúria dos governantes diante da corrupção, violência, desmandos.
O grande e admirável pensador espírita Deolindo Amorim, em O Espiritismo e os Problemas Humanos, peroliza: "Para os espíritas, finalmente, o Cristianismo não é apático. Se, na realidade, o cristão ficasse apenas na fé, rezando e contemplando o mundo à grande distância, sem participar do trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a palavra do Cristo teria a influência ponderável. O verdadeiro cristão, o que tem o Evangelho dentro de si, e não apenas o que repete versículos e sentenças, não pode cruzar os braços dentro de um mundo arruinado e poluído pelos vícios, pela imoralidade e pelo egoísmo".
Assim, não deveremos ser alienados. Os nossos órgãos representantes, ainda que de uma forma não hierarquizada – graças a Deus – poderiam se manifestar repudiando tudo que vai de encontro aos princípios de igualdade, solidariedade e fraternidade, que balizam a ação espírita no mundo.
Não haveremos de continuar achando que somos os “puros” que não poderemos nos “misturar” com estes espíritos inferiores. Precisamos agir com a firmeza de que Jesus nos instruiu: sim, sim; não, não.
No dia em que o ser humano deixar de se indignar, ele será uma máquina, um robô programado apenas para existir, nunca para viver, pois viver significa se comprometer, expor-se, lutar. Fazer de sua vida uma história de acréscimo do novo, em si e na sociedade em que atua.
A omissão jamais trará paz de consciência, ainda que a anestesie.