No último 20, foi comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. Lamento, no entanto, que a minha religião, através dos seus órgãos ditos oficiais, mais uma vez, se omite na manifestação de repúdio a todo e qualquer tipo de intolerância ou discriminação. Seguramente, porque eles próprios agem nesse sentido com os seus companheiros de ideal, quando discordam ou têm posturas que fogem às ditadas por alguns pretensos papas.
Não poderia, no entanto, ser diferente, pois a própria Umbanda, por exemplo, surgiu, segundo alguns historiadores, de uma reação à intolerância nas hostes espíritas. É duro cortar na própria carne, quando o faço colocando o bisturi da coerênica e do compromisso com a verdade em minhas colocações. Geralmente, recebo manifestações de concordância, negativas elegantes, outras nem tanto, censurando por eu falar dessas nossas mazelas. Muitos preferem o veu da ilusão, da falácia do finge que não é com eles. Não é o meu caso.
Sim, voltando à Umbanda, há informes que dizem que, em 1908, na Federação Espírita, em Niterói, um jovem de 17 anos, Zélio Fernandino de Moraes, foi convidado a participar de uma sessão espírita. Ao serem iniciados os trabalhos, manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da reunião pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). As entidades deram seus nomes como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio. No dia seguinte, esses espíritos começaram a atender, na residência de Zélio, a todos aqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, surgindo, aí, o trabalho da Umbanda.
O registro histórico não pode ser esquecido, a fim de que os líderes espíritas de hoje não continuem fazendo a mesma coisa, o que, infelizmente, ainda acontece no Brasil afora; talvez, muito pouco por aqui, mas que ainda esse tipo de preconceito existe, lá existe, sim.
Não podemos viver um faz-de-conta, onde nada há por melhorar, pois é uma dissimulação vergonhosa. Precisamos colocar na prática o que defendemos, evidenciando o que nos ensina O Livro dos Espíritos, nos seus Capítulos 9 e 10, da Lei de Igualdade e de Liberdade, neste último com carinhosa atenção aos itens Liberdade de Pensar e Liberdade de Consciência. Infelizmente, há muitos que se colocam à sociedade como “arautos” divulgadores da doutrina espírita e fogem do compromisso com os princípios do espiritismo, prevalecendo a politicagem nojenta, dos que querem ser donos, cardeais e/ou papas, oráculos do que não pertence a pessoa alguma e é, sim, de domínio de toda a humanidade.
Sei que, muitas vezes, o que digo e escrevo gera desconforto, principalmente aos que têm medo de desagradar a fulano, beltrano; outras vezes, gera o constrangimento de saber a verdade, mas prefere a sujeira debaixo do tapete. Há, no entanto, aqueles que, como eu, pensam que só abrindo a ferida para chamar a atenção e buscar a sua cura.
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz