Nunca assimilei bem a "campanha" que cresci ouvindo de que o povo brasileiro é pacífico. Não que achasse o contrário, não é isso. Mas sempre vi, o que era atribuído a pacifismo, como uma forma de indução a uma passividade, leniência, diante das determinantes sociais que gritavam por uma reação. Naturalmente, são muitas as explicações e justificativas para essa acomodação moral. Vemos, no entanto, que uma movimentação já se estabelece na direção do contrário, como se tem lido bastante por aqui.
Arrebentou-se a comporta de uma frustração geral, ensejando um movimento apartidário, sem políticos profissionais. É, realmente, o povo pelo povo. Nesse cenário, no entanto, a presidente Dilma se movimentou na direção dos manifestantes, elogiando "a grandeza das manifestações", buscando, certamente, um perfilamento ideológico, esquecendo-se, porém, de que entre as insatisfações manifestadas estão o uso de recursos públicos nos preparativos para a Copa do Mundo, o rechaço à corrupção e até mesmo a rejeição a uma proposta que tramita no Congresso e reduz o poder de investigação do Ministério Público.
A presidente tentou colar, no início do seu mandato, a alcunha de faxina moral na administração pública, mas ficou mesmo para "inglês ver". Não foi adiante, um dos querido da presidente, o ministro Fernando Pimetel ficou intocável. A presidente não vai se sair bem com este oportunismo ensaiado.
Surge, verdadeiramente, uma espécie particular de recuperação de um abandono histórico, vivenciado pelo desrespeito e descaso constantes a que o povo é levado. E as notícias que chegam às massas estão sem a censura chapa-branca de parte da imprensa. Não cabe mais lamentar cantando a conhecida música de Belchior Como os nossos pais; talvez só uma parte: "É você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem".