O que esperar de um país onde parte do seu povo só se comporta honestamente e a polícia estiver nas ruas? Estamos vendo uma forte sinalização nacional de uma onda de barbárie que toma corpo no Brasil. Há um tsunami em formação, em uma bem explicada desindividualização, como chamou o psicólogo americano Ed Diener, ou seja, as pessoas têm se apropriado de um comportamento difuso, sem responsabilidade, em um anonimato de massa, que gera desinibição e impulsividade até criminosa.
Com base em um conceito de mente grupal, os defensores dessa teoria afirmam que as pessoas se identificam com grupos que se veem sem restrições morais e comportamentais, por força de uma espécie de contágio de um segmento maior, que gera estímulos diretos ou indiretos a uma paralisia de valores, quando em meio a uma massa humana.
Não está difícil, nesses dias que correm, nos darmos conta em que grupo maior essas pessoas podem estar se espelhando, seguindo. Vemos, por exemplo, dos 13 senadores investigados pela Operação Lava Jato, dez foram escolhidos para integrar a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Na lista está o presidente do colegiado, Edison Lobão, que conduzirá a sabatina de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal, que tem visitado todos os senadores para, talvez, uma espécie de acertos de perguntas, sabe-se lá. Escolhido por Temer, será o revisor da Lava Jato. Por outro lado, dentro da psicologia sistêmica, o que acontece em uma sociedade convulsionada é uma espécie de tendência comportamental, em cadeia, o tal efeito dominó. É assim que uma pessoa com comportamento marginal pode fazer com que outra passiva vivencie a sua sombra, sendo contaminada pela onda vigente oportunista. Então, por analogia, um comportamento desonesto não punido se espalha como estímulo. O episódio do Espírito Santo chegou ao Rio, parece que contornado, mas o estopim foi acesso.
Os políticos brasileiros, em sua generalidade, estão brincando com o povo brasileiro. Perderam o acanhamento em suas práticas de compadrios ou mesmo lesivas à sociedade. Agem como se estivessem em um clube fechado de vale tudo, sem a menor ideia de consequência social. Os poderes da República precisam rever posições e tomar decisões que reforcem a democracia, em compromisso de garantia objetiva dos direitos dos seus cidadãos, e não satisfação de sua ganância sem freio. Avilta-se o povo com escancarada falta de compromisso com a honestidade, ziguezagueiam em ações de interesse literalmente intestinos, buscando mudar leis para acobertarem, protegerem saqueadores do erário. São capazes de desestruturar toda uma nação por satisfação meramente corporativista. Há de se dar um basta a tudo isso.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz