Uma briga em um restaurante em zona nobre de S. Paulo agitou as redes sociais nesse domingo. Em meio ao bate-boca, alguém disparou: - Você está falando com alguém que tem berço. Ao que o outro todo ofendido com o comentário, rebateu: - E eu não tenho? Quando uma voz feminina ecoa: - Não, não tem. Não tem berço nenhum. Em o primeiro momento o leitor poderá até imaginar que se trataria de uma feira livre, onde vendedores estariam oferecendo berços para serem comprados, mas não. Ali estava uma discussão de valores, valores de um segmento da nossa sociedade.
Valores são o conjunto de características de uma determinada pessoa ou organização, que estabelecem a forma como elas vão interagir com a sociedade, umas com as outras. Logo, valores variam com o tempo, com as estruturas, educação individual e do coletivo. Por outro lado, a palavra valor também traz uma carga de significado por merecimento, talento, reputação, honestidade...podemos, também, então, inferir que os valores estão atrelados à moral e afetam a conduta das pessoas, logo considerados também valores sociais.
Dessa forma, justifico o título deste artigo, onde valores de berço se encaixariam no século XXI? Tão longe das Capitanias Hereditárias, dos barões do cacau, dos tais sobrenomes “quatrocentões”. Em que mundo este povo ainda vive?
É preciso que entendamos que os valores de uma sociedade devem ser um trabalho de construção social, envolvendo o indivíduo e a realidade em que esteja inserido, buscando o compromisso de ajuste, ou adaptação, de que a roda sempre gira. Infelizmente, ainda somos tão “colônia”, que o que consideraremos bom ou mal (para cada um de nós) será o evidenciar o que temos, o que ostentamos, jamais o que de fato somos e fazemos para a sociedade. Não há crítica ao ter, em absoluto, estamos neste mundo, mas que estes elementos não sejam a dinâmica central das nossas buscas e atropelos humanos.
Podemos, então, dizer que valores bem assentados individualmente é aquele a ser partilhado, por amadurecimento, com a sociedade em respeito ao outro, à sua diversidade, às suas limitações, aos seus processos de vida e social, por consequência. Compreendendo, outrossim, que valores que se excluem, estigmatizam são geradores de tensão e ruptura do chamado pelos estudiosos de tecido social. Haja vista o que estamos vendo com as discriminações raciais pelo mundo e aqui. Tudo parece conviver em uma harmonia que mascara as contradições. Parece que nada está harmônico e que de repente a panela de pressão poderá explodir.
Agora a pergunta que não quer calar: Você tem berço? Eu tenho cama.
28/09/2020
José Medrado Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.