Todo brasileiro sabe que o dito por um político em público não retrata, em muitas situações, a verdade, mas apenas o interesse imediato de manipulação da sociedade, mas daí mentir publicamente, na maior desfaçatez, em campanha publicitária, vaza qualquer raia de cinismo, para vilipendiar os mais elementares conceitos de ética.
Falo da campanha do governo federal a favor da reforma da Previdência que, segundo a juíza Rosemayre Carvalho, que suspendeu a propaganda a favor das reformas, “...leva a população brasileira a acreditar que o motivo do déficit previdenciário é decorrência exclusiva do regime jurídico do funcionalismo público, sem observar quaisquer peculiaridades relativas aos serviços públicos e até mesmo às reformas realizadas anteriormente”. Essa proibição foi revogada pelo desembargador Hilton Queiroz, do TRF da 1ª Região.
Claro que o governo mente, distorce a realidade dos fatos, sabe-se lá com que interesse. Assim, rapidamente, vejamos, à guisa de esclarecimento: um grande executivo, cidadão que trabalha na iniciativa privada, e tem um excelente salário, digamos, de R$ 30 mil. Ele pagará oito por cento, e só isto, sobre o teto máximo da Previdência, que é de R$ 5.531,31, logo recolherá R$ 442,50. Já um servidor público, que se ganhar a metade deste valor, R$ 15 mil, desembolsará R$ 1.650, quase o triplo do servidor privado, considerando que no próximo ano será o valor de R$ 2.100, uma vez que subirá a alíquota de contribuição de 11% para 14%, só para os servidores públicos.
Detalhe: todo funcionário público continua pagando aposentadoria mesmo depois da aposentação, o que não ocorre com os da iniciativa privada. Outra grande, digamos, omissão: desde 2003 todo cidadão que entra no serviço público já se aposentará pelo teto da previdência privada, recolhendo também da mesma forma, mas sem FGTS, o que os da inciativa privada têm. Assim, onde o privilégio? O que acontece é um desmando generalizado, onde de escândalo e escândalo vemos o que compõe parte do Congresso Nacional.
O governo trabalha o ressentimento social, gerando uma estrutura que visa criar um ódio entre cidadãos, despertando uma falsa indignação, uma vez que o servidor público ascende por concurso, concorrendo democraticamente com todos, à exceção dos nomeados políticos para direção de empresas públicas, em geral do Executivo, que, em cargo de confiança e comissão, descem de paraquedas – naturalmente há os de grande valor, não questiono.
Como entender um déficit da previdência dos servidores, se continuamos a pagá-la, mesmo estando aposentados? O governo coloca a sua parte, como as empresas privadas fazem, sobre o recolhido pelos servidores? Mentir é tão feio.
José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.