Recentemente, uma amiga estranhou a minha forma de pregar, usando, na Cidade da Luz, efeitos de luz e fumaça. Justifiquei afirmando que estava modernizando, atualizando a forma de apresentar o mesmo conteúdo de sempre: reforma interior. Curiosamente, esta amiga redarguiu, dizendo que modernizou demais, que parecia ponto de Umbanda (santo preconceito?). O interessante nisto tudo é que ela falava comigo ao telefone, sem que o marido soubesse, pois ele tem implicâncias comigo, por tê-la “trazido” ao Espiritismo.
Aí é que vem o grande inusitado do meu “exagero de modernidade”, ela, de pronto, fingiu que estava conversando com uma amiga, no momento que o marido se aproximou e a chamou para sair. Não perdi tempo e questionei: Espiritismo, então, é isto? Mentir, enganar? Ela sem qualquer prurido afirmou: é para o bem viver.
Mais uma vez, se patenteia o valor da forma, em detrimento do conteúdo. Sobreleva-se a aparência, mas o essencial fica ao sabor da conveniência.
Ora, ora, estamos em constante processo de mudança no mundo, e sempre foi assim. Vamos modificando ao longo do tempo, de nossas vidas valores e senso estético. Surgem novos valores morais, místicos... nova forma de encarar e ver o mundo e enfrentar os seus problema. Logo, estilo, forma são valores históricos e mudam com as transformações que os tempos trazem. Isso é válido a nível pessoal (mudanças de gosto experimentadas por uma pessoa durante as diferentes fases de sua vida) e a nível coletivo (a preferência por determinadas maneiras de formar características de certos períodos históricos).
Saber viver cada tempo, momento e suas transformações são sinais de adequação, de harmonização, de equilíbrio. Uma obra de Leonarda da Vinci é de grande beleza e genialidade, que guarda o seu valor e admiradores, mas também não haverá de se comparar com as de Pablo Picasso, que também guarda sua genialidade, valor e admiradores. Quais os admiradores estão certos em sua apreciação? Ambos, pois cada um vê com a liberdade do seu sentir. Quem aprecia Da Vinci, falará da Monalisa, mas, quem gosta de Picasso, reportará à grandeza da Gernica.
Assim, a verdadeira autoridade pregadora nasce do relacionamento pessoal e do vigor moral demonstrado no dia-a-dia, pelo lidador religioso, nunca por avaliação preconceituosa ou hipócrita de parâmetros instituídos como certos e errados. A moral nasce da essência de ser, não da forma de se manifestar.
Infelizmente, ao longo da nossa vida deixamos cada vez mais para trás o desafio de descobrirmos o que somos, aí criamos defesas contra nós mesmos. Alimentamos, assim, aparências para mostrar aos outros o que no fundo não somos, pois nos falta coragem de nos olharmos no espelho de nossas almas e constatar o que realmente vai por lá. Então, fica mais fácil enfrentarmos a forma, do que enfrentarmos o que nos vai no coração. A isso se chamará, alguns ou algumas, modernização aceitável, necessária, no demais...
José Medrado
Mestre em Família pela UCSAL
Fundador da Cidade da Luz